segunda-feira, dezembro 07, 2015

Espaços Vazios


É como um corredor escuro, longo e desconhecido. Você não sabe pra onde vai te levar. Você não lembra, e não quer lembrar, do que deixou pra trás. Ou às vezes você sequer tenha deixado algo pra trás, afinal um corredor é não mais que o mesmo caminho sendo trilhado por quilômetros, por tempos, por vidas.

E quando se está em um corredor desses, você não consegue ver o fim e, tampouco, o começo. Você mal consegue ver o segundo seguinte. E o nada é a única coisa ao alcance das suas mãos.

Nada.

E ainda assim de alguma maneira permeado. De certa forma preenchido. Sombras se acomodam sobre o lugar que você deixou pra trás. Sombras que escurecem o passado. Sombras que cegam o futuro. E nessa tentativa desesperada de tatear o próximo momento, você se perde em um vazio imenso.

E você afunda tão profundamente nesse vazio, nesse condensado de sombras, que o fim do corredor já lhe parece inalcançável. O fim de um corredor que você não sabe se termina. E sua mente se torna cada vez mais aflita com o vazio.

As águas do vazio então inundam o seu corpo. Penetram os poros e permeiam a mente. Águas que carregam consigo um organismo impiedoso: a tristeza.

E você se esforça pra parecer insensível à tristeza. Você se esforça pra fazer parecer que ela não quebra um pedacinho da sua vontade de respirar todos os dias. E talvez, por ter tentando tanto, por tanto esforço feito, você tenha se entregado tão profundamente à tristeza que ela é tudo que você tem.

O problema é que as pessoas se acostumam com a sua tristeza. Acostumam tanto que a indiferença à sua tristeza é quase absoluta, unânime. E aqueles que conseguem perceber, admiram sua doce melancolia. Encontram beleza naquilo que trouxe, e traz todos os dias, todas as imagens desagradáveis para sua cabeça e, por alguma razão, você não consegue nadar pra fora dessas águas.

Por alguma razão, a tristeza, sua única e velha companhia do corredor, lhe parece agradável. A verdade é que a tristeza nunca me pareceu tão confortável, tão quente, tão aconchegante. “Você pode ficar viciado a um certo tipo de tristeza”. Um vício que talvez eu não busque, nem queira, uma cura.

Então você se veste de tristeza. Você se refugia nas sombras. Você se converte em vazio. De alguma maneira se sentindo bem, por não poder sentir. E se vocês sentem dor, vocês são os sortudos. Porque a maioria de nós tem apenas o vazio.

O que eu deveria usar para preencher os espaços vazios?

Como eu deveria completar as peças finais?

Como eu deveria fazer pra terminar esse muro, para me salvar da tristeza e do vazio?

E se você pudesse, você destruiria tudo bem no meio desse corredor. Derrubaria cada muro, cada pilar, mesmo que isso fosse soterrar você entre os destroços.Porque você já percorreu muito do início perfeito até a linha de chegada, e não existe mais nada a perder pras sombras.

Mas você não pode, porque você já se diluiu às negras águas da escuridão. Já foi transportado para o vácuo impiedoso do vazio. E agora é a sua alma que preenche os espaços vazios de escuridão.






fonte:http://flagrare.com.br/tagged/Empty-Spaces

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